Coisas e Coisas
INDÚSTRIAS CRIATIVASPara Caves (2000), as
indústrias criativas fornecem bens e serviços associados aos valores culturais, artísticos ou de entretenimento e incluem a edição de livros e revistas, artes visuais (pintura, escultura), artes performativas (teatro, ópera, concertos, dança), registo sonoro, cinema e telefilmes, mesmo a moda, brinquedos e jogos.
O autor define diversas propriedades das indústrias criativas, tais como o
ninguém sabe, expressão que indicia o risco elevado associado a um dado produto criativo. Isto é: os produtores e gestores sabem muito sobre os sucessos comerciais antigos e procuram extrapolar esse conhecimento para novos projectos. Mas a sua capacidade de prever o sucesso comercial de um novo produto a partir de uma etapa anterior é quase impossível.
Algumas actividades criativas precisam de um só autor: o artista que pinta um quadro a óleo. Mas muitas exigem emprego especializado e diferenciado, cada um trazendo gostos pessoais quanto à qualidade ou configuração do produto. Um filme resulta dos esforços de muitos artistas diferentes, com diferentes capacidades e valores estéticos, que podem entrar em conflito com prioridades e preferências. É o que Caves chama de propriedade da
arte por causa da arte.
Em terceiro lugar, como há várias etapas na produção criativa, algumas delas podem desenvolver-se com proficiência e conformidade. A actividade criativa envolve pois uma
função de produção multiplicativa.
Os resultados culturais tendem a diferir em características, modos e estilos, independentemente dos juízos dos compradores sobre os níveis de qualidade. Duas canções, duas pinturas, dois filmes podem assemelhar-se nas características e qualidade vistas pelo consumidor embora não sejam idênticas. Quando produtos diferenciados culturalmente (A e B) são vendidos ao mesmo preço, algumas pessoas preferem um enquanto outras compram o outro produto. Há aqui a propriedade da
variedade infinita, com implicações na organização das actividades criativas. Por exemplo, quando muitos casos de um produto criativo estão disponíveis para consumo, os consumidores podem ficar indiferentes.
Finalmente, as artes performativas e as actividades criativas envolvem equipas complexas – a propriedade da
equipa variada –, o que requer uma coordenação temporal e apertada de actividades. Por exemplo, um filme é eficientemente realizado no decurso de semanas, durante as quais toda a actividade é disponibilizada.
Os prémios do blogue novaiorquino design*spongeComo se vê na síntese acima do texto de Richard Caves e da própria capa do livro, as indústrias criativas abrem-se a áreas para além das indústrias culturais - como aqui tenho defendido. Por isso, não estou de acordo com a abrangência de actividades, embora tenha reflectido longamente na designação dada pelo professor de economia política da Universidade de Harvard.
Penso, por exemplo, no
product placement que ocupa um espaço crescente na ficção, nomeadamente na televisiva, para fixar telespectadores que mudariam de canal caso houvesse um separador para publicidade. Ora, o
product placement refere-se a marcas e produtos e não às indústrias da cultura. Daí o alargamento para as indústrias criativas servir de análise neste blogue.
Mobiliário, design e moda são três áreas privilegiadas no
product placement. Por isso, faço a ponte para um blogue - que anunciei há dias - que se interessa por estas áreas criativas, e dentro da linha do que gosto de ler e de ver -, o sítio de design*sponge, a partir de Brooklin, Nova Iorque. No passado dia 28, miss design*sponge atribuiu prémios em modalidades como mobiliário (que ela não gostou; idem para mim), produtos, joalharia, papel/parte gráfica, e outros.
Obtenho de empréstimo duas imagens do blogue dela, mas aponto apenas para a da direita - a de pequenos animais (em feltro?, em papel? noutro material?), feitos pela Mary. Miss design*sponge, como eu também, admira-se de haver gente tão talentosa e que gasta tempo nestas coisas.
Outras pessoas dirão o mesmo dela e de mim, do lado ocidental do Atlântico, gastando tanto tempo a escrever em blogues.Leitura: Caves, Richard E. (2000).
Creative industries. Cambridge, MA, e Londres: Harvard University Press
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