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BLOGOSFERA: O FIM DA IDADE DA INOCÊNCIA

Já suspeitava que a idade da inocência da blogosfera estava a chegar ao fim. A leitura do Diário Económico de sexta-feira última foi um sinal preciso, em texto de Hugo Pinheiro. Agora, a BusinessWeek, de 2 de Maio (hoje distribuida), confirma isso, ao dedicar o tema de capa à importância dos blogues nos negócios.

Stephen Baker e Heather Green escrevem os textos que ocupam nove páginas da revista (uma apenas para o título e com uma imagem de um indivíduo - Steve Rubel, que apresento abaixo - envergando uma camiseta que diz "estou a blogar isto", pronto a mostrar os vestígios das ligações dos blogues). O título do dossiê da publicação é significativo - os blogues mudarão os seus negócios (uma indicação: o trabalho é construído como se fosse um blogue: posts por dia, data por ordem inversa à usada nos blogues, texto, links).

Que futuro para os blogues?

No texto de Baker e Green, há uma referência fundamental - a blogosfera é a erupção mais explosiva no mundo da informação desde que começou a internet. Isto porque a blogosfera está a entrar no mundo dos negócios, o que não se pode ignorar, adiar ou delegar. Apesar de um ponto negro - a obsessão, o despeito ou a "varanda" da fama -, que enforma muita da actividade dos blogueiros.

Existem cerca de nove milhões de blogues, 40 mil dos quais nascem diariamente. Muitos discutem poesia ou leis constitucionais, lê-se no artigo da BusinessWeek desta semana, mas também há lixo. Talvez não passe de uma estimativa sem qualquer relação com o mundo verdadeiro ao considerar-se haver 99,9% fora da realidade. O que deixa uns escassos 40 a poderem escrever sobre uma actividade empresarial, dos seus empregados e de fugas de informação sobre fusões ou extinções de postos de trabalho. É sobre estes que a história de capa da BusinessWeek fala.

Os dois jornalistas fazem remontar a história dos media à tipografia de Johannes Gutenberg, que tornou possível a revolução de informação. A imprensa, que se seguiu à invenção de Gutenberg, seria o modelo dos meios de comunicação de massa. Alguns proprietários detinham as máquinas de impressão e controlavam a informação; tornados gigantes dos jornais, passaram a ser os responsáveis por aquilo que as massas deviam aprender.

Para Baker e Green, os meios de massa, como nos habituamos a ver, estão a ser postos em causa. Ainda compramos jornais e pagamos programas e canais de televisão: os editores escolhem as fontes e citam-nas ou não, o mesmo acontecendo com as cartas ao director. Porém, com uma conta gratuita na Blogger ou outros serviços, o custo da edição caiu para praticamente zero. Um editor de blogues demora perto de dez minutos a publicar os seus textos, imagens paradas ou em movimento e sons. Por isso, está a desaparecer a fronteira entre editores e público. Os meios de comunicação de massa tendem a tornar-se meios individuais de comunicação. Ora, as empresas não querem perder poder. Logo: de que forma se apropriarão dos blogues?

Parte substancial do extenso texto relata como algumas pessoas desenvolveram os seus negócios através deste novo meio de distribuição que é o blogue. Um deles é Steve Rubel, que trabalhava numa empresa de relações públicas quando começou a editar o seu blogue Micro Persuasion e a colocar nele informações dos seus clientes. Um dia, um dos mais importantes blogueiros, Dan Gillmor (de cujo recente livro já aqui escrevi), fez um link do seu blogue para o de Rubel. O sítio deste passou a ser muito mais visitado. Além da informação sobre os seus clientes, Rubel monitoriza os blogues em busca do que dizem sobre a sua empresa. Duas razões para tal: 1) pode ajudar a vender serviços através de relacionamento pelo e-mail, 2) desenvolve estratégias de controlo de prejuízos, caso ataquem a empresa que ele representa. A mensagem colocada no cimo do blogue de Steve Rubel diz "como os blogues e o jornalismo cívico têm impacto nas relações públicas"!



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