Coisas e Coisas
AO ENCONTRO DO 24 HORAS SÁBADOO
Expresso de hoje noticia a queda de circulação de jornais nos Estados Unidos, à média de 0,5% a 1% anuais. Mas, no semestre passado, a descida foi de 1,9% em termos de grande imprensa, o que provocou o alarme e a discussão sobre o seu futuro. Isto enquanto as pequenas publicações tiveram um comportamento distinto. Uma razão para a perda de mercado da imprensa é o fim das chamadas de telemarketing, responsável por mais de 60% das assinaturas. As estatísticas, divulgadas pelo Audit Bureau of Circulation (ABoC) - e seguindo o texto de Ana Serzedelo, do
Expresso -, mostram que apenas 23% dos jovens entre os 18 e os 29 anos lêem um jornal na véspera, contra 60% da população com mais de 65 anos. Uma percentagem elevada de indivíduos consulta a internet. Aliás, estima-se que as receitas de publicidade do Google e do Yahoo deverão chegar, este ano, aos valores do horário nobre das três maiores televisões americanas.
E, em Portugal, como vão as coisas? Diz a mesma notícia que os casos positivos são o
Expresso, as três
newsmagazines e os jornais gratuitos. O que não é totalmente verdade, pois a
Visão registou uma leve quebra, conforme comunicado recente da Impresa e que eu comentei aqui. E não deve ter tido em conta o fenómeno do matutino
24 Horas, que recentemente tem ao sábado uma revista em vez do jornal.
Como é esta revista?A televisão e as
vedetas dos seus programas têm um lugar de grande destaque. A modelo Raquel Loureiro, o treinador de futebol José Mourinho e o produtor de televisão Piet-Hein Bakker chamam a atenção na edição de hoje, temas mais importantes que a coluna da esquerda da capa.
A publicação - de layout e conteúdo semelhante às revistas cor-de-rosa existentes no mercado - custa €1, mais barata que essas revistas, cujo preço oscila entre €1,25 e €1,3. Tem 96 páginas coloridas - o que significa mais espaço que o diário. O sábado é um dia de lazer para muita gente, que pode disponibilizar mais tempo à publicação. Contudo, a sua leitura é rápida, com o texto quase a ser um suplemento das imagens.
Da ficha técnica, publicada na página 24 (se não erro, pois não existe paginação), há um nome de secção que chama a atenção:
Moda e Famosos. Dentro dos colaboradores da revista, surgem três elementos associados no título
Belas&Perigosas).
São elas que têm as páginas iniciais de "estrelas" de televisão, manequins e outras elegantes. De particular interesse (!?) a página com as sugestões de Fátima Preto, uma das belas e perigosas. Mais para o fim, um pouco antes da programação de televisão e das resenhas de novelas da SIC e da TVI, numa espécie de oposto, temos uma rubrica com o nome "Sexo", texto assinado por Sérgio Krithinas e com destaque "Só para machos". Trata-se de peça muito elucidativa (?!).
Mas a cereja no bolo da publicação softcord são as seis páginas sobre Leonor Sousa, a stripper que publicou recentemente o livro
Amanhã à mesma hora (com chancela da Dom Quixote) e entra amanhã na
Quinta das celebridades. Da longa peça, escrita por Cristina Arvelos e com fotos de Gerardo Santos, retiro uma parcela menos dura: "Apesar das confusões e atritos, guarda [Leonor] boas recordações de algumas das strippers. Trocam mensagens pela Páscoa e Natal. Encontram-se de vez em quando. Sempre que há disponibilidade põem a escrita em dia à hora do lanche, num qualquer café de Lisboa". Licenciada em biologia marinha e pescas e com um mestrado em ecologia, gestão e modelação de recursos marinhos, ex-colaboradora do Oceanário, Leonor Sousa foi dispensada de uma empresa onde era ilustradora e escritora de materiais didácticos. Seguiu-se o striptease, entre Agosto de 2003 e Julho de 2004, sendo o livro o repositório dessa experiência. Agora, com 32 anos, prepara-se para as entrevistas dos media. A de hoje, a avaliar pelas fotografias publicadas, é o começo dos quinze minutos de fama da ex-stripper (na anterior edição da
Quinta, essa posição pertencia a Paula Coelho; quem ainda se lembra dela?).
Depois desta leitura, acho estarmos abaixo do nível zero da inteligência nas publicações diárias. Mas, certamente, o nível descerá mais. A concorrência é feroz e a lei do bom senso (para não falar em educação ou moral) já não faz sentido. Nem resta a consolação da perda de influência dos media escritos, pela perda de circulação, porque os conteúdos centram-se na televisão e crescem na internet.
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