Coisas e Coisas
DIYA partir de amanhã, o
Público tem um novo suplemento, como já fiz eco ontem (imagem tirada de um mupi). É o
Kulto (assim mesmo, com k). O que nos diz o encarte que cobria parcialmente o jornal? Trata-se de "uma revista de 16 páginas produzida pelo Estado de Sítio [será este o endereço da empresa que a produz?] para o
Público, direccionada para jovens de ambos os sexos, dos 7 aos 13 anos". Promete não usar linguagem cifrada e alarga-se ao suporte blogue, estando disponível 24 horas por dia, com interactividade de conteúdos e possibilitando a publicação de textos e imagens enviadas pelos leitores(as). O sítio é Kulto, alojado na Blogger.com.
De blogues falou-se ontem no DNA, em troca de correspondência entre Edson Athayde, o brasileiro da publicidade e que aderiu também aos blogues, e o director do suplemento do
Diário de Notícias, Pedro Rolo Duarte. Retenho umas frases da carta deste último: "Escrevi então o meu modesto artigo defendendo esta tese: os blogues deviam ser «reservados» aos que não têm voz na comunicação social, e só. Os outros, os que podem publicar, os que são ouvidos, os que têm voz activa, deveriam abster-se deste universo - porque ele se transforma, naturalmente, num puro exercício de vaidade, ou num caixote do lixo das coisas que não querem publicar nos media «tradicionais»". Contudo, revela o mesmo cronista, passada a euforia dos blogues, mudou de ideias e até se tornou adepto do conceito: "Os blogues tornaram-se tão banais quanto essenciais. Na semana passada [a data da carta de Rolo Duarte é de 20 de Maio] houve uma manchete do
Diário de Notícias feita a partir de um blogue".
Destas leituras, retiro duas ou três ideias. A primeira é que, crescentemente, as figuras públicas usam os blogues. Athayde usa-o para uma questão simples: aloja os seus textos já publicados, tornando-os acessíveis a quem os procura. Depois, à banalização associa-se uma curiosidade dos media tradicionais, levando-os também à adesão, caso do
Público (
Kulto), como meio de captar públicos fãs da internet e das suas variadas formas. O problema 16-25 (idades pouco sensíveis à leitura de jornais de papel, mau grado o recente êxito dos jornais gratuitos) desloca-se para montante: o
Público quer captar leitores de uma faixa etária mais jovem. Uma terceira ideia é a da comercialização de um produto em cima de uma tecnologia não paga até hoje. Reforçando a ideia: o objectivo do
Público é conquistar leitores, vender mais. A
Blogger.com tem disponibilizado o serviço gratuitamente. Eticamente isto é correcto? Ou o jornal tem um acordo com a Blogger.com para ter mais facilidades gráficas, espaço, maior interactividade que o simples comentário e paga por isso?
Claro que o blogue se parece cada vez mais
diy (
do it yourself) [em português seria
fvm -
faça você mesmo].
Diy porque não há hierarquias, não há regras como horário, dimensão ou tema do post. Pode apresentar-se um texto longo e aborrecido como curto e bem escrito, em linguagem literária ou cifrada, com imagens ou sem elas ou apenas com elas. Um cidadão anónimo pode coexistir, em termos de publicitação nesta esfera, com um conceituado especialista. Pode dizer coisas sérias ou simples anormalidades. E nem precisa de se deslocar à Ikea ou a outra loja para trazer as peças e montar o equipamento em casa. Basta estar em casa ou num sítio de acesso à internet sem fios. Diy mais democrático não há. Por isso, temos aí uma grande adesão, quer se tenha um ideal ou se escrevam tagarelices ou se persigam valores comerciais. O que, eventualmente, poderá dificultar uma mudança de filosofia e obrigar a pagar o serviço.
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