Coisas e Coisas


A SUBTILEZA DAS NOTÍCIAS

Ontem, dava conta da notícia sobre audiências de jornais publicada no Diário de Notícias e expressava um comentário sobre ausência de idêntica informação no Público. Hoje, ela aparece neste último, mas com muito menor destaque. Devo escrever já que as subtilezas nas peças dos dois jornais não são boas para os leitores, pois estes são tomados por tontos.

O primeiro parágrafo da peça de ontem do Diário de Notícias dizia: "O DN recuperou no segundo trimestre do ano 25 mil leitores, no segmento dos diários generalistas em que todos subiram, à excepção do jornal Público". No quarto parágrafo da mesma peça, lê-se: "Relativamente ao primeiro trimestre do ano, o DN também subiu, concretamente de uma audiência de 3,4% para 4,2%. O Público também cresceu, de forma ligeira, de 5% para 5,3% entre trimestres". Comentário 1: é preciso ler com atenção - no primeiro parágrafo, comparava-se o segundo trimestre do ano com o período homólogo do ano anterior; no segundo parágrafo, comparava-se o segundo com o primeiro trimestre. Comentário 2: a posição do Público é melhor que a do Diário de Notícias no segundo trimestre, pois o nível de audiência é maior, apesar do aumento ser mais reduzido. A jornalista Paula Brito podia ser mais cuidadosa: é que se retém mais facilmente o primeiro parágrafo que o quarto.

Como eu imaginara, o Público coloca a informação hoje, numa notícia a uma coluna e 28 linhas. Retenho a penúltima frase do texto não assinado: "O PÚBLICO passou de 5,0 para 5,3 no trimestre - quase ao nível do seu melhor de sempre, 5,4 há um ano -, o Diário de Notícias atingiu os 4,2 (estava em 3,4) e o 24 Horas os 3,5 (tinha 3,3)". Comentário 1: não há qualquer comparação com o período homólogo do ano passado, penalizador para o jornal. Comentário 2: à "bicada" de ontem do Diário de Notícias, que destaca logo pela excepção o comportamento em termos de audiência do jornal concorrente, a notícia do Público faz uma espécie de ranking em que se vê a distância que existe entre ele e os jornais da Lusomundo (agora Controlinveste). E esta "bicada" de resposta é acentuada mais acima na curta notícia do Público quando se lê: "Os números de circulação apontam, porém, para o Correio da Manhã 119.243 exemplares e 98.197 para o JN" [o JN faz parte do grupo do Diário de Notícias].

Ambas as notícias ostentam uma verdade parcial mas não são totalmente isentas na sua análise. Sei que os jornais e os media em geral se dão mal com notícias sobre si próprios. Mas não posso deixar de perguntar: se é assim com os negócios domésticos, podemos aceitar a credibilidade e distanciamento objectivo no tratamento das notícias em geral?



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