Coisas e Coisas
O FOGO NAS DIRECÇÕES DO DIÁRIO DE NOTÍCIASO Diário de Notícias de ontem deve ler-se como um bloco. Isto porque nele vejo três temas, em secções bem distintas, que apresentam uma grande homogeneidade, juntando análise aos incêndios e duas histórias de direcções do jornal em tempos diferentes.
Comecemos pelo tema do dia,
Incêndios e incendiários, que ocupa cinco (5) páginas [sem falar nas cinco cartas de leitores, que ocupam todo o espaço da
Tribuna livre]. Salto as análises do perfil do incendiário, a entrevista e as citações, para me debruçar sobre as páginas 4 e 5 (escrita pelos jornalistas da área dos media e televisão). Assim, fica-se a saber que, nos primeiros 23 dias deste mês e segundo estudo da Marktest, a televisão portuguesa dedicou mais de 45 horas nos seus noticiários, ou seja, 23% do tempo total destes programas. A SIC transmitiu mais notícias em mais tempo e a TVI emitiu notícias mais curtas. Em termos de opinião de especialistas, há quem considere que as imagens influenciam os pirómanos e os que pensam de outro modo. Tem havido um apelo à regulação (redução de imagens de incêndios) [mas o
Expresso de hoje revela que isso será pouco consensual entre as três televisões].
O começo do comentário de Miguel Gaspar - bem escrito como sempre, embora discorde da sua opinião - aponta-me para o segundo tema. Escreve Gaspar: "A ideia de suavizar as reportagens de incêndios, removendo as chamas, que passariam a ser só filmadas à distância, é mais um exemplo de uma situação em que os políticos, ameaçados na legitimidade, reagem contra o mensageiro".
O segundo tema que quero trazer aqui vem nas páginas 14 e 15, uma resenha do tempo em que José Saramago foi director-adjunto do
Diário de Notícias, entre Abril e Novembro de 1975. Lê-se, escrito por Pedro Correia: "A nacionalização do DN, na sequência do 11 de Março de 1975, trouxe uma nova administração a este matutino [...]. Luís de Barros (ex-jornalista do
Expresso e hoje editor-geral do
Diário Económico) foi então designado director, tendo Saramago como adjunto. Na prática, as posições invertiam-se: os textos que marcavam a posição editorial do jornal eram os do futuro autor de
Levantado do chão. Sempre na primeira página, sob o título genérico «Apontamentos». Entre Abril e Novembro, foram publicados 95 destes textos, que funcionavam como verdadeiros editoriais". As críticas eram demolidoras respeitantes a figuras como Mário Soares, Freitas do Amaral e Melo Antunes e termos como inimigos, traição e rendição eram frequentes.
Os textos não eram assinados por Saramago, excepto um, a 11 de Abril, em que ele e o director afirmavam que o
Diário de Notícias precisava de todos os que trabalhavam dentro do jornal. Tempos depois, a 27 de Agosto, 22 jornalistas eram despedidos por delito de opinião. A leitura da peça de ontem, de Pedro Correia, deve ser toda lida, para se compreender melhor como se faziam as notícias e os jornais de então.
Se de fogo poderemos dizer da passagem de Saramago pelo
Diário de Notícias, a peça da página 40 remete-nos para outro "incêndio". A peça chama-se "Negócio concretizado, administração empossada" e refere-se à entrada de Joaquim Oliveira nos comandos da Lusomundo Serviços. A fotografia da administração, comparada com a dimensão das de Saramago, não nos permite ver muito bem as caras para além do principal responsável, mais conhecido dos media. Com a nova administração, a direcção do jornal muda. Para já, foi nomeado João Morgado Fernandes como director-interino.
Pela leitura do
Diário de Notícias dos últimos meses, parecia-me que a direcção de Miguel Coutinho e Raul Vaz estava a funcionar. Gostava de ler os editoriais deles e os de Peres Metelo. E verifiquei - como já o escrevi aqui - que a secção de media e televisão teve um salto enorme e de valor, afinal a área que mais me interessa. Contudo, um novo patrão quer construir uma equipa de confiança - tem toda a legitimidade.
Mas isto traz uma outra questão, normalmente discutida pelos académicos e pelos jornalistas: o peso destes, mais a deontologia e a imparcialidade. Não podemos esquecer a importância das administrações e dos accionistas (e das empresas que colocam publicidade nos media). A questão é, portanto, mais complexa - pelo que devemos olhar um quadro vasto, muito vasto, e não um ou vários jornalistas apenas, com obrigações e deveres.
loading...
-
Cartas Do Leitor (ii)
O Público edita hoje, na secção de cartas do leitor ao director, uma resposta da direcção cessante do Diário de Notícias (António José Teixeira, João Morgado Fernandes, Eduardo Dâmaso e Helena Garrido) ao artigo de Eduardo Cintra Torres do...
-
AS NOTÍCIAS DE HOJE Ando um pouco atrasado, pois houve blogues que anunciaram a mudança na direcção do Expresso ontem à noite. Mas também só li os jornais de hoje há poucas horas. Li atentamente as notícias editadas pelo Público e pelo Diário...
-
AINDA A SENHORA DONA LADY A 1 deste mês, coloquei um post sobre o fim do reality show da SIC, Senhora Dona Lady, feito a partir da leitura de vários jornais que ao assunto tinham dedicado bastante espaço. Na sua coluna de provedor do leitor do Jornal...
-
COISAS QUE FASCINAM Espero que me desculpe o blogueiro João Paulo Meneses, do Blogouve-se, por lhe roubar o título. Mas apetece-me escrever desse modo ao comparar as edições de hoje do Diário de Notícias e do Público, apenas na secção dos media....
-
AS PÁGINAS DE MEDIA & TELEVISÃO DO DIÁRIO DE NOTÍCIAS Quem lê o Diário de Notícias e o Público vê a diferença quanto à secção de media, onde sabemos o que se passa nesse universo. Hoje, por exemplo: enquanto o Público tem uma página, o...
Coisas e Coisas