Coisas e Coisas


CONSUMOS DE TEATRO, MÚSICA E INDÚSTRIAS CULTURAIS

A análise de Jordi López e Ercília García (2002) evidencia, sobre o consumo estratificado das artes cénicas, uma homologia entre a assistência aos eventos culturais estudados e a classe social dos consumidores (numa linha devedora de Pierre Bourdieu). Os autores estudaram: 1) os estilos de vida dos assistentes espanhóis face às artes cénicas e musicais, baseando-se no seu comportamento, e 2) os valores que esperam obter no consumo, num reforço da sua posição na estrutura social.

López e García distinguem: 1) consumidores com um padrão de consumo esporádico e uma probabilidade muito reduzida de participar inclusive nos eventos culturais mais populares, sejam estes a leitura de diários locais ou revistas populares, feiras populares ou festivais, concertos de música pop, folk ou flamenca; 2) consumidores que mostram um estilo de vida popular tanto pelo que fazem em hábitos de leitura (jornais locais, revistas familiares, ou livros populares), consumo das artes (festivais de teatro e música, monumentos artísticos e feiras de artesãos), como da assistência às artes cénicas e musicais (teatro, concertos de música pop, flamenca, folk e jazz); 3) consumidores com um padrão de consumo "culto", lendo livros com um certo valor literário e revistas de opinião, assistindo aos museus com regularidade, mas também indo às galerias de arte, monumentos artísticos e feiras de livros e às artes cénicas e musicais "cultas", ópera, zarzuela, música clássica e ballet/dança; 4) consumidores insaciáveis que lêem de tudo (livros, revistas, jornais), consomem todo o tipo de artes com profusão e assistem às artes cénicas e musicais.

Os autores etiquetaram os quatro grupos como consumidores: 1) esporádicos, 2) populares, 3) snobs, e 4) omnívoros. A elevada dimensão da classe esporádica de consumidores (2/3 da população) transforma-a no segmento mais importante para alguns dos geradores dos produtos cultos e populares. Os consumidores populares representam entre 12 e 20%. Os consumidores snobs e omnívoros não atingem, em média, até 10%.

Há dois eixos ou factores principais: 1) consumo geracional, e 2) conteúdo cultural. O consumo geracional indica-nos que os jovens com o seu consumo revelam uma preferência pelas manifestações culturais com valores modernos que lhes permite diferenciar-se dos mais velhos, caso da assistência aos concertos de música pop, ao passo que as gerações de idade mais elevada aderem a valores mais tradicionais, provavelmente relacionados com os valores da sua juventude, uma predisposição para a nostalgia, como a ópera, a zarzuela e as manifestações folclóricas.

O eixo do conteúdo cultural diz-nos que existe uma diferenciação geracional na assistência às artes cénicas e musicais. Dentro de uma mesma geração também existem diferenças quanto a preferências: as classes sociais privilegiadas são as que elegem os produtos mais cultos (ópera, ballet/dança, música clássica), enquanto as classes baixas e médias consomem as mais populares (flamenco, folclore e teatro).

Leitura: Jordi López Sintas e Ercília García Álvarez (2002). El consumo de las artes escénicas y musicadas en España. Madrid: Fundación Autor



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