Coisas e Coisas
INDÚSTRIAS CRIATIVASO QUE SÃO?O texto que se segue foi, parcialmente, o meu último editorial na revista MediaXXI, nº 80, em Março/Abril deste ano, cessando uma colaboração que vinha desde o nº 72, de Setembro/Outubro de 2003. Foi cerca de ano e meio de intensa e gostosa colaboração. Mas a vida é assim mesmo, andamos sempre com novos projectos em mãos, e deixei a MediaXXI, que continua florescente, felizmente.Segundo um livro lançado este ano no mercado inglês (John Hartley,
Creative industries), elas [as
indústrias criativas] fazem a convergência das artes criativas (talento individual, como a pintura) com as indústrias culturais (escala de massa, como a televisão), no contexto das novas tecnologias dos media (TIC), dentro de uma nova economia do conhecimento, para uso dos cidadãos e consumidores interactivos.
Há quem fale no aproveitamento das capacidades das indústrias criativas para relançamento económico das cidades europeias. O exemplo dado é o de Bilbau, que saiu da decadência provocada pela perda da sua indústria pesada com a entrada em funcionamento do museu Guggenheim, através da criação de fileiras de actividades. Cultura, moda e redes digitais de comunicação conjugam esforços para colocar a cidade basca no centro do mundo, servida por adequados acessos viários e aéreos e por bons alojamentos. Mas o mesmo se pode aplicar a Manchester (com uma indústria de audiovisual complementar a Londres) ou a Vancouver [Canadá] (que fornece elementos da cadeia de valor do cinema a Hollywood).
O conceito de indústrias criativas surgiu no Reino Unido em finais da passada década, quando se viu que o conjunto dessas indústrias (bens e serviços associados a valores culturais, artísticos e de entretenimento, edição de livros e revistas, artes visuais como pintura e escultura, artes performativas como teatro e dança, indústria discográfica e concertos, cinema e telefilmes, mesmo a moda e jogos, apoiados por adequados serviços de hotelaria e restauração e redes digitais de informação) contribuía significativamente para o produto interno bruto do país e consequente desenvolvimento local e regional.
Agora, em ano de eleições autárquicas, em especial em cidades como Lisboa, Porto, Aveiro, Braga, Coimbra ou Évora, com património cultural e capacidade produtiva nas indústrias criativas e com escolas de comunicação e artes, convém olhar para os exemplos acima mencionados. As cidades precisam de se tornar pólos mais fortes de atracção e desenvolvimento económico e social, como um modo de combater a deslocalização empresarial resultante da globalização dos mercados. Queiram os candidatos incluir essa estratégia nos seus programas eleitorais.
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