Coisas e Coisas


REDES

Em pequeno livro, Manuel Castells sintetiza o seu conceito de rede, destacando os centros de inovação e as redes de informação ligadas a áreas nodais e a sistemas rápidos de transporte. Forma antiga de organização social, caso dos transportes, a rede mostra-se flexível, adaptável e reconfigurável, não física mas electrónica, a qual lhe fornece uma vida virtual [observação: apesar de me referir à edição inglesa, existe já uma tradução portuguesa].

castells.jpgQuem fala em redes, escreve sobre a virtualidade. O autor desenvolve dois conceitos ligados. O primeiro é o da cidade virtual. Para ele, com as tecnologias da informação, a cidade digital é o novo espaço público, democrático, interactivo, comunitário. O outro conceito é o de virtualidade real. Por norma, fala-se de realidade virtual, expressão mediada virtualmente de um mundo imaginário. Em Castells, a virtualidade real entende-se como manifestações de cultura mediadas electronicamente (em linha, televisão, vídeo), enquanto parte fundamental da nossa realidade. É virtualidade porque se processa em termos electrónicos, mas é absolutamente real porque é uma parte central da nossa experiência.

Se a actual sociedade é de uma grande criatividade, ela produz também como que o seu negativo. Quem não tiver capacidade de inovação, fica de fora. Aquilo que designa por divisor digital quer dizer fragmentação, individualização e desigualdade social e de rendimentos. Para combater tal divisor, tem havido políticas de ligar mais computadores à Internet, nomeadamente na escola. Verifica-se, contudo, e caso não se atenda às condições sociais e económicas de cada caso, que os estudantes com melhores condições aprendem mais face a estudantes em piores situações sociais e culturais. E a discrepância mantém-se.

Numa aposta polémica, o sociólogo catalão caracteriza a cultura da sociedade em rede como desprovida de qualquer valor ético. Criar e destruir constantemente são elementos presentes. Exemplo é o do mercado financeiro global, não controlado por ninguém e onde se transferem bens financeiros de países e regiões para outros países. É o autómato, que pode ditar aleatoriamente a pobreza e a riqueza num instante apenas. Porém, a haver ética, ela vem dos hackers, cujo sentido de inovação os leva a furar os segredos dos sistemas protegidos de informação. Para além de entrar no proibido, arriscar, inovar constituem as palavras-chave do hacker, de certa maneira as ferramentas do gestor e da empresa moderna.

Leitura: Manuel Castells, com Bob Catterall (2002) The making of the network society. Londres: Institute of Contemporary Arts. 32 páginas. Custo aproximado: € 4,5.



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