Coisas e Coisas
A MENINA DANÇA?A fotografia de Leonardo Negrão é admirável. Lembra-me a pintura impressionista (Edgar Degas ou o próprio Auguste Renoir) - não há descontinuidade de cor (ou pontilhismo dos pós-impressionistas como George Seurat) mas a câmara lenta deixou rastos de cores e formas. Certamente que considero a fotografia como distinta da pintura e que ela constitui uma arte autónoma, mas foi a primeira imagem que me veio à cabeça quando abri o
Diário de Notícias de hoje. Pelo menos, fiquei muito sensibilizado pelo tema e pela fotografia, eu que não tenho jeito nenhum para a dança (ao contrário do meu pai, que era fã das danças de salão e terá ocupado muito do seu tempo livre enquanto jovem nesta actividade lúdica).
Ora, de que fala o texto de Raquel Rodrigues (com imagens de João Oliveira Silva e Leonardo Negrão)? Dos bailes organizados em vários pontos de Lisboa, com especial incidência no Mercado da Ribeira. Se há reformados, parece haver gente mais nova a disfrutar desta actividade de lazer. No Mercado, a banda musical chama-se
Compacto, com o ritmo a começar do lento até entrar em maior movimento, de modo aos tímidos aceitarem ocupar a pista. O primeiro baile neste estilo teria ocorrido no Carnaval de 2003, lê-se na peça.
Claro que, para quem não saiba dançar (ou o chamado
pé de chumbo), há o bar, onde se pode conversar com outras pessoas. Há uma sociabilidade que renasce. E aos fins-de-semana, o espaço do Mercado pode atingir as mil pessoas (custo do ingresso: €2 à semana, €3 ao sábado e €3,5 ao domingo).
Um dia fui observar o baile da tenda do Centro Cultural de Belém. E a opinião traçada pela jornalista coincide com o que vi então. Tangos, valsas,
swings, chá-chá-chás, e salsas são tocados sucessivamente, com os bailarinos ou dançadores a rodopiarem alegremente a sala. Dessa minha observação, anotei o requinte com que muitas senhoras (elas em especial) se vestiam. Parecia que se tinha voltado a uma época de ouro dos bailes, com vestuários requintados.
Lembro-me de, noutra ocasião e espaço diferente, ter visto uma baile ao ar livre. Estava em Valladolid (Espanha), numa tarde quente de domingo de Verão. As lojas ainda não tinham aberto a essa hora e eu dei um pequeno passeio pelo jardim (não me lembro o nome). Passado um bom bocado depois de estar sentado num banco, vejo muitas pessoas, a maior parte delas casais de uma certa idade, passarem na rua do jardim. Curioso, segui o rasto: era um baile que se começava a organizar. E vi-o animadíssimo.
Portugal não gosta tanto dos jardins como os espanhóis. E, assim, em vez do baile ao ar livre ele decorre num espaço fechado embora amplo. Isso justifica, julgo, o título na página 50 do jornal de hoje: "Em alternativa aos bancos de jardim, muitos reformados, e não só, encontram-se para dançar".
Nota: o título da minha mensagem, e que se encontra também presente no jornal, pertence, quanto julgo saber, a José Duarte, esse mago dinamizador do jazz, com uma rubrica muito antiga na rádio (
Cinco minutos de jazz), em que uma das variações é (ou era) exactamente essa frase. O seu programa diário e a série de CDs que saem à quinta-feira com o jornal
Público enchem de alegria a minha alma.
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