Coisas e Coisas


MAIS SOBRE O VALOR IMATERIAL DO NORTE DE PORTUGAL E DA GALIZA

Num intervalo entre cálculos estatísticos sobre públicos de cultura (e manipulação de dados no SPSS e no Excel), dei um salto ao sítio galego Vieiros, para saber as reacções ao não da Unesco em reconhecer o património imaterial daquela vasta zona do norte da Península Ibérica (tema que o jornal Público de hoje tratou bem).

A meu ver - e sem entrar em qualquer tipo de polémica, que não me interessa -, quem mais perdeu com o não reconhecimento foi a Galiza, enquanto região que pretende maior autonomia política face ao poder central de Madrid. Portugal talvez tenha olhado de modo distraído esta candidatura, até porque se trata de uma parcela do território em associação com uma parcela de Espanha - e desconheço o peso político e de lóbi do grupo que tratou da candidatura do lado nacional.

Contudo, não quero deixar de referir uma entrevista que o sítio Vieiros inclui, onde surgem os pontos de vista de José María Fonseca (presidente do Conselho de Administração de Terras Gauda e membro do Conselho de Administração de Galaxia e do padroado da Fundación Carlos Casares). Diz ele: "É moi certo que as simetrías entre Galiza e o norte de Portugal son moi abondosas. Moitas das variedades autóctonas repítense, trebellos, tipos de elaboración, destilados... Iso que vostede chama inmaterial tradúcese materialmente nunha morea de castes nobres que só existen en Galiza e no norte de Portugal: Treixadura (trajadura), Albariño (Alvarinho), Loureiro, Sousón... ou na cultura existente arredor de destilados como as augardentes branca e bagaceira. Pero a tradición vitivinícola é moi semellante en toda a Europa romanizada. A tradición do que en Galiza chamamos loureiros ou furanchos, coa póla de loureiro fóra para anunciar a colleita, existe practicamente en todo o continente. A tonelería e a arxila para gardar os viños, as festas da vendima e o abillado, as diferentes elaboracións dos viños licorosos ou doces".

A uma pergunta - "Entre os séculos XVI e XVIII, o nivel de coñecemento do viño do Ribeiro era moi superior ao do Porto. A partir do século XIX, a tendéncia invírtese radicalmente, en parte por culpa da filoxera. Que se fixo en Portugal que non se puido facer en Galiza"? -, respondeu o entrevistado "O cambio prodúcese cando Inglaterra, entón o primeiro mercado do mundo, entra en conflito con España, deixa de mercarlle e vén a producir ás ribeiras do Douro, pero xa en moitos casos con compañías propias. Levando, por certo, moita man de obra e cultura do viño de Galiza. En Portugal tamén é decisiva a figura do Marqués de Pombal... Despois a filoxera apontoou este proceso. Sobre o que se fixo en Portugal e non se puido facer en Galiza, eu contéstolle á galega: ¿que se puido facer en Portugal que non se fixo en Galiza"?

Há, ali, um grande conhecimento de História. Mas a Unesco não foi flexível à situação. Por curiosidade, gostaria de conhecer a composição do júri.



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