Coisas e Coisas


SOBRE INVESTIGAÇÃO HISTÓRICA NA RÁDIO E NOS MEDIA EM PORTUGAL

Aquando do lançamento do meu livro As vozes da rádio, 1924-1939, eu tencionava dizer umas palavras sobre investigação histórica. Contudo, a apresentação do livro por Adelino Gomes, pela sua excelência, levaram-me a adiar essas palavras. O blogue pode, agora, ser eco dessas nótulas.

1) Investigação

Com a saida dos livros de Nelson Ribeiro (A Emissora Nacional nos primeiros anos do Estado Novo, da editora Quimera) e Dina Cristo (A rádio em Portugal e o declínio do regime de Salazar e Caetano, 1958-1974, da editora MinervaCoimbra), além do meu, pode considerar-se 2005 como ano vintage para a história da rádio no nosso país. O futuro da investigação passa pela abertura, após classificação e digitalização, do arquivo da RTP (rádio), em fase de execução (o responsável pelo centro de documentação falou-me que tal ocorrerá em meados de 2006). Evidentemente, é fundamental o alargamento da investigação aos outros media (imprensa, rádio). Torna-se necessário fazer investigação e edição sobre a realidade do século XX (neste momento, que tenha conhecimento, decorre uma investigação sobre imprensa dos anos 1960 a anos 1980, levada a cabo por Fernando Correia e Carla Baptista). A investigação deve alargar-se ainda a outras indústrias culturais, como o cinema, o disco e o livro, por exemplo. A investigação pode incluir metodologias distintas: 1) documentação escrita, como eu usei, 2) entrevistas como Dina Cristo empregou, e Fernando Correia e Carla Baptista estão a fazer, 3) recolha de imagens de profissionais já retirados ou com uma longa carreira.

2) Recepção estética, social, cultural e política

Como fiz no meu livro, é preciso perceber como os programas (mais noticiários e mais publicidade) são recebidos. Que públicos? Quais os gostos dominantes? E os minoritários? Tem sido feita investigação em termos de recepção actual de televisão (Isabel Ferin, Verónica Policarpo, Catarina Burnay), mas esse interesse tem de se alargar aos outros media.

3) Ligação universidade e empresas

A meu ver, esforços multidisciplinares devem ser erguidos (história, sociologia, estética e cultura) entre a universidade e o mundo das empresas. Sei que têm sido assinados protocolos entre entidades (por exemplo, a Fundação Portuguesa das Comunicações com a Universidade de Coimbra, mas no âmbito das telecomunicações). Não temos uma história do Diário de Notícias até aos nossos dias, ou do Público. O trabalho de Vasco Hogan Teves sobre a RTP ficou-se pelo primeiro volume (dada a falência da entidade editora). A tese de doutoramento de Ana Cabrera sobre a imprensa no tempo de Marcelo Caetano, quando sair, será importante. Cada vez mais, estes trabalhos são feitos por equipas de investigação, dada a dimensão das matérias (caso dos principais jornais nacionais durante o século XX) [observação: não conheço no seu todo o state of art da área].

4) Realização de eventos

Pode não ser sob a forma de congresso, mas sob a designação de encontros sobre história e sociologia dos media (a SOPCOM, Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação, não tem um grupo de trabalho desta área, mas apenas de jornalismo, que abarca benevolamente a área e tem permitido que se trate da história de jornalsitas do começo do século XX, como eu fiz em dois congressos seguidos). Isto quer dizer que manifesto disponibilidade em apoiar/promover encontros sobre esta matéria. Sei, aliás, que o Instituto Goethe em Portugal está a agendar uma proposta nesse sentido (mais concretamente sobre rádio na primeira metade do século XX). Afinal, os media enformam cada vez mais as nossas vidas e nós temos de saber como eles funcionam (hoje como há cem anos).

5) Esforço das editoras e dos media

A publicação é fundamental. Para além da editora Caminho, relevo o esforço (relativamente recente) de editoras como os Livros Horizonte e MinervaCoimbra. Sei que a aposta neste tipo de literatura não costuma ser rentável, mas não podemos deixar de chamar a atenção e estimular a saida de obras. Do mesmo modo, os jornais e os outros media são veículos excelentes para a promoção das edições, fazendo recensões críticas.



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