Coisas e Coisas


CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA IMPRENSA PORTUGUESA

Começou ontem o conjunto de seminários ligados ao mestrado de Ciências da Comunicação da UCP, tendo o conferencista sido o professor José Miguel Sardica (doutor em História e docente da mesma universidade), com o tema "Acordar" o país "a berros": a função sócio-política da imprensa no segundo liberalismo português.

Trata-se de um trabalho que o professor Sardica está a fazer e que aborda a imprensa portuguesa em finais do século XIX e começos do XX, não uma história de recensão de títulos mas uma história de construção da opinião pública, da alfabetização e da política, indicando ciclos de evolução. Ou seja, um período que começa em 1860/1870 e se estende até 1926.

No começo desse período, temos a geração nova, a de 1870, com Eça de Queirós e Ramalho Ortigão como figuras centrais, onde se procura uma reconfiguração do liberalismo de 1820. O espaço público de então era ténue e os arautos da geração de 1870 sonhavam com a sua expansão, coisa que os jornais podiam ajudar. José Miguel Sardica detecta aí uma nova militância ética e estética, em que o argumento principal é o da imprensa como instrumento primordial e os jornalistas com uma função de formadores e promotores desse alargamento da esfera pública, enquanto a opinião pública entra na agenda.

O núcleo de estudo do professor Sardica envolve os seguintes elementos: 1) o surgimento do jornalismo factual no Diário de Notícias, em Janeiro de 1865, 2) o dispositivo realista e interventivo da geração de Eça, com este a escrever nomeadamente no jornal Districto de Évora, 3) a imprensa massificada e sensacionalista dos republicanos, caso do surgimento dos jornais Lucta (1906), Mundo (1910) e República (1911). Segundo a investigação já produzida, o país possuiria cerca de 200 grandes jornais em 1880, número que subiria para 400 em 1900, 550 em 1910 e 660 em 1926. As tiragens dos jornais em Lisboa - apesar da dificuldade em comprovar estatisticamente tais valores - atingiriam 150 mil exemplares em 1900 e 250 mil em 1910, o que significaria um jornal por cada dois lisboetas.

Como conclusão de um trabalho importante em realização pelo professor Sardica, pode escrever-se que o Diário de Notícias, a geração de 1870 e a imprensa republicana constituiriam exemplos de modernidade jornalística, a par do fontismo enquanto "corrente" de desenvolvimento, industrialização e massificação. Outros assuntos nas mãos daquele investigador apontam para o surgimento do repórter, o peso do escritor no jornalismo nacional, a mudança de paradigma de jornais como O Século que se "desrepublicanizaram" (passagem de um jornalismo comprometido com causas partidárias para um jornalismo mais objectivo e factual) e a comercialização dos media de então.



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