Coisas e Coisas
[postal nº 1600]REVISTA "6ª" (DIÁRIO DE NOTÍCIAS)
Desde o seu aparecimento, a revista publicada pelo Diário de Notícias à sexta-feira já surgiu cinco vezes. Parece-me poder ser feito já um balanço em termos de temas e jornalistas mais envolvidos na revista, as tendências e o que falta segundo a minha perspectiva de leitor.
O editorial do primeiro número coube ao director António José Teixeira, assumindo esta escrita o editor Nuno Galopim nos números subsequentes. Do editorial inicial, retiro o seguinte: "6ª é a nova revista que vos convidamos a ler. 6ª porque se publica à sexta-feira, 6ª porque não? 6ª porque sim. Não foi por ser nome de dia dedicado pelos pagãos à deusa Vénus, deusa da beleza, nome de astro reluzente, inspiração para tantos artistas em diferentes épocas. Não foi, mas poderia ter sido. 6ª é um espaço para falar de cultura e fazer cultura, para falar de livros, de música, de cinema, de muitas artes e ofícios de que se constrói a nossa identidade e que dão contorno à riqueza da nação portuguesa no lego global. 6ª para olhar, ler, aprender, recrear".
Uma outra leitura de apresentação programática pode ser feita do texto de Paulo Cunha e Silva (coluna "Cultura em plano inclinado", saída no nº 4, mas sem continuação no seguinte). Com o título "Programa", Paulo Cunha e Silva indica que "Uma revista que nasce e que se pretende afirmar como nova e diferente no panorama editorial português é ainda uma entidade à procura de um corpo e um espírito sem lugar. Escrever num objecto ainda não consolidado exige responsabilidades acrescidas. O sucesso do objecto passa por todos os contributos que estão a acontecer e não pelo lastro, pela genealogia, que neste caso é inexistente. Não se pode invocar a história do jornal. Escrever na 6ª é dessa forma «escrever na água». Escrever num território fluído que procura consolidação. Mas escrever num território com estas características é também assumir o ar do tempo. Ou seja, ter uma escrita e uma temática que se organizem a partir da ideia de procura. Da estratégia da sonda".
Cada revista tem 48 páginas, o que já totaliza 240 editadas. Das rubricas existentes, há quatro que preenchem 75,9% da revista, a saber: 20,4% no tema de abertura (dossiê temático), iguais 20,4% nas letras (literatura), 18,8% nos sons (música, nomeadamente pop, fado e clássica), e 16,3% nas imagens (cinema e DVD) [estes valores relativos e os seguintes são aproximados, pois o leitor-blogueiro pode não ter contabilizado uma ou outra coluna]. Por número, as secções de sons e imagem ocuparam mais espaço no primeiro (22,9% cada) e no segundo (25% cada), o tema de abertura o terceiro (47,9%, com 23 páginas dedicadas a Mozart), imagens no quarto (22,9%) e letras no quinto (25%).
Dos grandes destaques das capas, três são dedicados ao cinema (Máquina Zero, de Sam Mendes; Match Point, de Woody Allen; e O segredo de Brokeback Mountain, de Ang Lee) e duas à música (Mozart; e Depeche Mode). Apesar do número destacado de páginas sobre literatura, esta ainda se não reflectiu nas capas da revista. Para além dos filmes acima enunciados, o quarto número dedicou espaço a outra estreia, o filme Munique, de Steven Spielberg.
Quanto a jornalistas mais associados ao projecto, Nuno Galopim tem 27,2% do total das páginas escritas, seguindo-se João Lopes com 22,8%, Bernardo Mariano com 10,5% (ele escreveu oito páginas no terceiro número, cujo tema de capa foi Mozart), Pedro Mexia com 9,6% e Ana Marques Gastão e Isabel Lucas, cada uma com 7,0% de páginas escritas.
Uma área de grande notoriedade da revista é a dada ao negócio dos filmes em DVD, ocupando em média três páginas por número, elucidativo do crescimento do mecado e da oferta quase imediata dos filmes após a sua estreia nas salas de cinema.
Voltando ainda às capas, ponto nobre da publicação - e a cuja dedicação Henrique Cayatte deve dar muito tempo -, elas têm enfatizado a ilustração excepto o número quatro (banda Depeche Mode).
Do que ainda não vi e gostaria de ver e ler: 1) não há dados sobre videojogos, uma indústria cultural cada vez mais importante, associada a outros produtos como os filmes, 2) uma análise a capas de revistas internacionais (que falta desde o desaparecimento do "DNa", revista cujo espaço foi ocupado pela "6ª"), 3) dados estatísticos do mercado (ainda ontem o Público fez referência à perda do mercado de cinema em termos de espectadores durante 2005, e que o Expresso no caderno "Actual" faz frequentemente), 4) ausência total ou escassez de referências às indústrias criativas (caso do teatro, e que, uma vez mais, o Expresso dedica atenção).
Uma última nota: um jornal, pelo seu lado efémero, reflecte o agendamento dos acontecimentos. A "6ª" tem este lado do efémero bem definido: os temas são os do momento, da estreia de um filme à vinda de uma banda a Portugal. O agendamento, fundamental no jornal generalista, para mostrar a actualidade, pode ser atenuado numa publicação especialista. Aqui, e por comparação com a publicação anterior ("DNa"), a ausência de entrevista a uma personalidade marcante na cultura portuguesa, independemente de produção recente, é uma marca de distinção não presente na actual revista.
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