Coisas e Coisas
O MEU PEQUENO CONTRIBUTO PARA A HISTÓRIA DA IMPRENSA DO SÉCULO XIX
O Diário de Notícias de hoje merece ser guardado, pelo seu número 50 mil. Após a morte do Comércio do Porto, é o diário mais antigo de Portugal continental.Retenho do editorial do director, António José Teixeira: "Os jornais da época eram muito partidarizados, mais instrumentais de luta política do que veículos de notícias. O DN introduziu a reportagem na imprensa portuguesa, na altura dominada pela crónica e pela opinião. Criou os ardinas, que aproximaram o jornal dos leitores. Inovou nas artes gráficas, tirou partido da rádio e do cinema, abriu espaço ao pequeno anúncio, iniciou a publicação de caricaturas, fez ponte com escritores e artistas, acolheu nas suas páginas os mais importantes vultos da cultura portuguesa".
Sem contestar directamente todas as informações - até porque há poucos dados sobre a história da imprensa na passagem do século XIX para o XX e eu sou um leitor habitual do Diário de Notícias -, parece-me que alguns dos valores atribuidos a este jornal de 142 anos também devem ser estendidos a outros diários, que, infelizmente, já desapareceram e não têm historiadores ou jornalistas para lhes fazerem elogios. Não esquecendo os longos períodos de deriva político-partidária do próprio Diário de Notícias durante o século XX [isto não é uma crítica radical, porque jornalistas e leitores ao longo de século e meio nem sempre pensaram a mesma coisa, dependendo da época em que viveram].
Retenho apenas um livro, de Lourenço Cayolla (que foi director do Correio da Noite, órgão do Partido Progressista, e mais tarde articulista, crítico literário e secretário geral do Diário de Notícias). De um jornal antigo e do seu director, respectivamente Jornal da Noite (1871-1892) e Teixeira de Vasconcelos, escreveu ele: "Era sobretudo um artista, caprichando sempre em dar ao jornal que dirigia um aspecto moderno, atraente pela sua leveza e carácter literário, em contraste com o tom mazorrão e pesado que tinham os órgãos da imprensa nessa época, à excepção do Diário de Notícias que então era quase um jornal de anúncios, com um reduzido texto exclusivamente noticioso" (Cayolla, Revivendo o passado, 1929, Lisboa: Imprensa Limitada, p. 140).
O mesmo Cayolla (1929, p. 139) escreveu ainda o seguinte: "Foi o primeiro [o Jornal da Noite] que se atreveu a despertar a Lisboa moderna dessa época fazendo estrugir nas suas ruas, ao findar do dia, as vozes dos garotos apregoando o Jornal da Noite".
[caricatura retirada do jornal Novidades, de 25 de Setembro de 1906, que tenciono republicar amanhã - num conjunto alargado - com a devida explicação]
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