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A HISTÓRIA DO JAZZ, SEGUNDO ERIC J. HOBSBAWM

Hobsbawm escreveu inicialmente a sua História social do jazz em 1959-1961 sob o pseudónimo de Francis Newton (de Frankie Newton, trompetista), para manter separada a sua obra de historiador da de jornalista de jazz no New Statesman. A edição não teve êxito, pelo que ele propôs uma nova edição, saída já com o seu nome, como explica na introdução feita nessa edição de 1989 (e que serve de ponto de partida para a tradução feita no Brasil em 2004).

O autor divide o livro em quatro partes: 1) história, 2) música, 3) negócios, e 4) gente. Na minha leitura, a última parte é a menos interessante, pois mistura frequentemente a análise com considerações de ordem ideológica, o que obscurece a compreensão (o jazz como protesto social, o jazz como afirmação contra a opressão política da classe dominante). Já a segunda e a terceira partes parecem-me mais estimulantes, com o autor a aliar um grande conhecimento da história do jazz e uma bela escrita literária, jogando com estilos e linguagens musicais, instrumentos e tipos de pessoas e ambientes sociais muito ricos.
Surgido como forma musical reconhecível por volta de 1900, Hobsbawm vê o seu "grande despertar" na mescla de música europeia e africana, de inspiração religiosa, em direcção a New Orleans. O autor encontra ainda outros dois factores: o aparecimento do entretenimento profissional dos trabalhadores pobres e o crescimento das grandes cidades. Hobsbawm divide, grosso modo, a história do jazz em quatro tempos: 1) pré-história, de 1900 a 1917, quando se torna a música negra em todos os Estados Unidos (ragtime, síncope), 2) antigo, de 1917 a 1929, em que o jazz estrito se expandiu pouo mas evoluiu muito (jazz), 3) médio, de 1929 a 1941, conquista de públicos minoritários na Europa e com músicos avant-garde (swing), e 4) moderno, a partir de 1941, quando se dá a verdadeira internacionalização e aceitação de linguagens puras (bop ou cool). Esta periodização corresponde a uma estrutura tripla: pré-história, expansão e transformação.

Recorde-se que, a partir de 1920, as empresas de discos passam a achar valer a pena a gravação exclusivamente para o mercado de negros. Aliás, o jazz é uma forma de fazer música mas também uma forma de fazer lucros, combinando entretenimento comercial realizado por artistas profissionais contratados por empresários de variado tipo, em que a venda de ingressos e os níveis de vendas são determinantes no movimento da arte e do destino dos artistas. Ao mesmo tempo, Hobsbawm analisa dois momentos diferentes na conduta dos músicos: o espectáculo (para ganhar dinheiro) e a junção de músicos após os concertos (after hours), onde têm liberdade de movimentos e se ouvem uns aos outros em jam sessions, sem tocar estereótipos e o tipo de música que o público quer ouvir.

Linguagem de dança moderna e música popular da civilização industrial, o jazz tem, na perspectiva do autor, cinco características principais: 1) peculiaridades quanto ao uso de escalas orginárias da África ocidental, 2) ritmo africano, 3) cores instrumentais e vocais próprias (poucas cordas e muitos metais e madeiras), 4) formas musicais e repertório específicos (blues, balada), e 5) música de executantes (e menos de compositor).

O jazz, diz Hobsbawm, foi sempre um interesse de minoria, de modo semelhante ao da música clássica, mas o eco junto dos fãs nunca se estabilizou como na última. Esta instabilidade teve razão devido à ascenção do rock, tipo de música com o qual o jazz estabeleceu relações de interinfluência. Mas o rock superou o jazz, devido à inovação tecnológica (o uso da música electrónica na guitarra, o microfone pessoal, o sintetizador), à ideia de conjunto ou banda (unidade colectiva, ao passo que o jazz é um agrupamento de individualidades que se expõem em solos) e o ritmo insistente e palpitante.

Leitura: Eric J. Hobsbawm [Francis Newton] (2004). História social do jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra.



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