Coisas e Coisas


SERÁ MÁRIO MESQUITA O NOVO LUCKY LUKE?

Tenho uma admiração e estima grande por Mário Mesquita. Trata-se de um dos maiores intelectuais do país, reflectindo e escrevendo muito bem sobre a cultura em geral e os media em particular, em livros e na sua coluna semanal do Público.

Mas ontem, com a leitura do texto sobre o caso Dreyfus (1894) e consequências que se arrastaram até hoje, fiquei preocupadíssimo. É que, não muito distante da sua fotografia, surgia a ilustração de um cow-boy, com o seu revólver apontado para a direita, após o fulminar de uma bala. O dito cow-boy tem lenço atado ao pescoço, veste calças de ganga e tem um ar de rufião. Dá pelo nome de Lucky Luke.

Sei que Mário Mesquita é um hábil trabalhador da palavra e da argumentação, mas acho-o muito urbano e pacífico, o que não se coaduna em nada com a figura do cow-boy. Distraído, apesar de haver uma pequeníssima chamada de atenção junto à imagem, só na edição do jornal de hoje é que eu compreendi tratar-se de publicidade a um conjunto de álbuns em b.d. (banda desenhada), a começar a sair um destes dias.


Apesar de não me parecer escandalosa a forma como Mário Mesquita se faz acompanhar pelo cow-boy, não seria melhor uma outra forma de promoção dos ditos livros fora do espaço de opinião?

Mas o jornal da concorrência - o Diário de Notícias -, desde a sua recente alteração gráfica (Janeiro de 2006), também nos brinda com ilustrações a acompanhar os textos de opinião. Com frequência, não sei o significado das mesmas junto aos textos. Na edição de hoje, a ilustrar o artigo de João César da Neves, que escreve sobre economia e campeonato mundial de futebol, surge uma máquina de triturar cereais [peço desculpa se me engano]. Não sei se dirá respeito a imagens publicitárias de há um século e tal será uma forma do jornal homenagear esse tempo do quase começo da industrialização do país.


De todo o modo, o que me parece é que as ilustrações já não ocupam o lugar que eu imaginava para elas, o acompanhamento de textos, explicando visualmente o que se lia. Na realidade, os géneros jornalísticos estão mudados, havendo alguns modelos híbridos difíceis de classificar.



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