Coisas e Coisas


Observação prévia: o que aparece nas linhas seguintes não pode ser lido a favor ou contra algum jornal ou jornalista, mas é tão só a minha análise enquanto comprador e leitor de jornais em papel.

OPTIMISMO VERSUS REALISMO NA VENDA DE JORNAIS

Os dois jornais de referência Diário de Notícias e Público trazem hoje informação sobre vendas de jornais do primeiro semestre de 2006, após divulgação pela APCT (Associação Portuguesa de Controlo de Tiragens). Assim, o Diário de Notícias (texto de Paula Brito) tem o título DN foi o generalista que mais cresceu (antetítulo: Vendas face ao semestre anterior). O título do Público (texto de Maria Lopes) é: Portugueses compraram menos 33 mil diários no primeiro semestre.

Já manifestei neste espaço a crítica face a dados assim reportados pelos jornais. A informação contida nas notícias é verdadeira, mas incompleta ou joga com datas comparativas diferentes, o que distorce a análise. Não deixarei de manifestar o meu desapontamento mesmo que haja um zilhão de notícias sobre o tema.

Nesse sentido, enquanto o Diário de Notícias compara o primeiro semestre de 2006 com o segundo semestre de 2005, o Público estabelece paralelo com os primeiros semestres nos dois anos. Para o Diário de Notícias, os dados dos primeiros seis meses deste ano, quando comparados com os do último semestre, são positivos. Mas isso não aconteceria se eles fossem comparados com os dados do primeiro semestre de 2005. Trata-se de uma leitura optimista, que congratula em parte os seus accionistas, mas que não esconde a perda relativamente a um ano de distância.

Já o Público tem um texto mais equilibrado (da última vez que escrevi sobre o tema achei o texto do Público o menos correcto). Lê-se sobre a tendência para a queda na compra de jornais diários (o gráfico de circulação média paga não deixa margem de erro), o crescimento dos jornais gratuitos e das revistas do grupo Impala e do segmento feminino.

Quero expressar duas conclusões. A primeira é que um país com consumos reduzidos de jornais diários (não incluo os de desporto) indica fracos níveis de leitura e, mesmo, de competências científicas. A queda contínua de vendas vem comprovar que nem elites, gestores e quadros técnicos se aguentam na aquisição constante de jornais. Sem estes, a formação de conhecimento do que se passa cá dentro e no estrangeiro e a permanência de uma opinião pública que se quer livre e forte não passam de questões teóricas em que nos envolvemos como cidadãos. Se não lemos, não sabemos e não decidimos.

A segunda é que, como mostram as duas notícias que servem de pretexto para esta mensagem, os jornais têm de estar atentos ao modo como se redigem as peças, para evitar comparações deste tipo. Sem conterem mentiras, elas são (podem ser) tendenciosas, pois veiculam expectativas negadas parcialmente nos quadros. Uma subida esconde uma queda, pelo que deveria haver a assunção desse movimento duplo.



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