Sobre desgraças e cervejas
Coisas e Coisas

Sobre desgraças e cervejas


Eu, que perdi o rumo quando me vi desempregado e corno, hoje dou um valor danado a quem se fode e não sucumbe ao desespero. E digo mais: admiro quem se fode e ainda consegue relaxar e curtir o momento. Nada como aprender a lidar com uma carreira tão cheia de turbulência. Quando se menos espera, vem um passaralho ou se declara a morte de um jornal. Viver na corda bamba dá medo, mas também dá coragem. Então relaxemos, de preferência com uma cervejinha.

Dias atrás, uma amiga e leitora me enviou uma matéria sobre o fim da Gazeta Mercantil. Sexta-feira, dia 29 de maio, circulou sua última edição. Nelson Tanure, dono da CBM, uma espécie de Lex Luthor tupiniquim, decidiu romper o contrato pelo uso da marca Gazeta Mercantil. Os jornalistas ganharam férias coletivas e a promessa de que receberão todos os seus direitos. Alguns ainda podem ser aproveitados em outras publicações de Tanure. É óbvio que os jornalistas acreditaram na promessa assim como acreditam no Papai Noel.

Mas o que mais chamou a atenção na tal matéria, da Folha de S.Paulo, se não me engano, foi o seguinte trecho: Apesar de acreditarem ser difícil a volta da publicação, os funcionários tentaram evitar o clima pesado no último dia. Após o fechamento da última edição do jornal, na noite de quinta (dia 28), houve cervejada na redação. Segundo jornalistas, o clima era de "dever cumprido e cabeça erguida”.

Isso que é despedida honrosa: encher a cara de cerveja.

Além do dever cumprido, eles devem ter celebrado também a libertação de Tanure. Ou a capacidade desenvolvida ao longo dos anos de enfrentar tanta coisa ruim. Com o tempo, nós, jornalistas, criamos anticorpos poderosíssimos contra desgraças em geral!



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