Os Outros ou A história das Almas Jornalísticas na redação dos Vivos
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Os Outros ou A história das Almas Jornalísticas na redação dos Vivos


Eram quatro as Almas Jornalísticas que perambulavam pela redação habitada pelos Outros, os jornalistas vivos.

A Alma Boêmia era a única que não aceitava a morte. Ficava lá, de um lado pro outro da redação com um cigarro apagado na mão, a pedir fogo aos Outros. Ninguém a via e, mesmo que um repórter com dons mediúnicos a visse, não teria fogo. Não se fumava por ali havia tempos. A Alma Boêmia também se atormentava com a ideia de que poucos bebiam uísque ou cerveja. Vivia-se a ditadura do suco de frutas vermelhas. Sem adição de açúcar.

Havia duas Almas Revisoras, que passavam horas e horas esparramadas em suas poltronas fazendo deboche dos erros de Português dos Outros. Era só alguém deslizar numa concordância ou botar uma vírgula onde não se devia botar uma vírgula para começarem as gargalhadas. Chegavam a engasgar de tanto rir. Ou cair das poltronas.

A quarta alma era a Alma Investigativa, que sonhava encontrar entre os Outros sua alma gêmea. A busca não era fácil, levando-se em consideração que os Outros gostavam muito do tal jornalismo declaratório e dos dossiês customizados. A Alma Investigativa, contudo, não desistia de acreditar na perpetuação da espécie.

Alguns dos Outros ralavam tanto naquela redação que não era incomum ouvi-los dizer, ao fim do dia de trabalho, que estavam mortos. Mas era só uma sensação passageira.

E assim iam-se passando os dias. A Alma Boêmia irritada toda vez que alguém saboreava um sanduíche de peito de peru; as Almas Revisoras zombando dos que, por sua vez, zombavam da língua portuguesa; e a Alma Investigativa apurando um sinal de sua alma gêmea, qualquer sinal, um pontinho luminoso sobre o ombro ou um puta texto investigativo escrito por alguém dos Outros.


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