A Verdade
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A Verdade


Trilha sonora para este post:
Wounder
Burial






A verdade é que o sujeito inicialmente identificado como "a" estava trafegando tranquilamente pela rua, sem dar muita importância às circunstâncias - o que talvez possa ter sido seu erro primordial. Ao chegar ao cruzamento das ruas, que seguem a direita e a esquerda, o sujeito inicialmente identificado como "a" encontrou o sujeito inicialmente identificado como "b". Olharam-se. O sujeito inicialmente identificado como "a" ainda não parecia ter se inteirado do que estava para acontecer. O sujeito inicialmente identificado como "b" parecia estar mais atento às circunstâncias.

Uma outra verdade é que o sujeito inicialmente identificado como "c" estava aguardando pacientemente os sujeitos inicialmente identificados como "a" e "b". Qual a sua motivação nós nunca saberemos, mas conseguimos perceber que ele se agitou quando conseguiu enxergar os sujeitos inicialmente identificados como "a" e "b".

Os sujeitos inicialmente identificados como "a", "b" e "c" foram, quase que instintivamente, uns em direção aos outros e encontraram-se exatamente no meio da rua, debaixo do semáforo.

A cena vista de cima poderia ser definida como plasticamente perfeita. Olhando-os de cima os sujeitos inicialmente identificados como "a", "b" e "c" formavam um triangulo perfeito em torno do semáforo. Outra verdade ainda é que mesmo com tanta beleza plástica, não haveria um bom desfecho a cena que se seguiria.

Sob determinado ângulo seria possível perceber que o sujeito inicialmente identificado como "a" levava uma bolsa que continha uma arma carregada dentro dela. Talvez esse fosse o motivo de sua despreocupação. Ele estava sempre preparado para tudo.

Por um outro ângulo era possível perceber também que o sujeito inicialmente identificado como "b" trazia na mão um exame laboratorial. Este exame talvez fosse o motivo para sua preocupação e atenção às circunstâncias estabelecidas. Circunstâncias essas que, devo desde já avisar, não serão esclarecidas durante a narrativa.

Se tivéssemos a possibilidade de voltar no tempo, teríamos visto que o sujeito inicialmente identificado como "c" já estava neste cruzamento de ruas há 04 horas. E também seria possível ver que o sujeito inicialmente identificado como "b" havia se encontrado com ele anteriormente nesse mesmo dia, um pouco antes de ter ido até o hospital. Voltando um pouco mais ainda no tempo, teríamos a possibilidade de perceber que o sujeito inicialmente identificado como "a" havia se encontrado com o sujeito inicialmente identificado como "b" antes que esse tivesse encontrado o sujeito inicialmente identificado como "c". O teor das conversas entre eles também não será possível descobrir.

Esquecemos de mencionar que o sujeito inicialmente identificado como "c" trazia uma arma na parte posterior do corpo, na altura da cintura. Ela, a arma, estava colocada entre a pele e o cós da calça jeans usada por ele. O sujeito inicialmente identificado como "b" também estava armado, mas não sabemos precisar qual tipo de arma era.

A verdade é que não havia inocentes na cena. Nunca há!

Quando os três encontraram-se debaixo do semáforo, formando aquela cena plasticamente perfeita mencionada anteriormente, o sujeito inicialmente identificado como "a" já havia se dado conta de que havia circunstâncias que antes eram ignoradas por ele. O sujeito inicialmente identificado como "b" continuava atento às circunstâncias, mas é justo assinalar que ele não contava com a presença do sujeito inicialmente identificado como "c". Este último, na verdade, estava esperando um sujeito inicialmente identificado como "d", sobre o qual não faremos muitos comentários sobre, visto que ele não se encontra na cena... é apenas uma citação com pouca importância - ou não - para a revelação final que, asseguro-lhes, não está muito distante.

Os sujeitos inicialmente identificados como "a", "b" e "c" ficaram por um momento olhando-se profundamente. Nenhum deles parecia ter ânimo ou força para dizer qualquer palavra ou fazer qualquer pergunta. A verdade é que as palavras já não eram necessárias. O sujeito inicialmente identificado como "b" apenas fez menção de levantar uma das mãos, não sabemos especificar qual delas. Não sabemos dizer se era a mão que levava um pedaço de papel que já devemos ter mencionado anteriormente ou a outra. Não sabemos dizer também o que ele levava na outra mão, visto que seu corpo encobria nosso ponto de vista.

O sujeito inicialmente identificado como "a" olhou para o sujeito inicialmente identificado como "c". Uma lágrima escorria de seus olhos. Não é possível afirmar qual era verdadeiramente a motivação para essa lágrima, mas o sol forte e a poluição não podem ser hipóteses facilmente descartadas. O sujeito inicialmente identificado como "b" sem nenhuma indicação anterior cai de joelhos. O sujeito inicialmente identificado como "a" coloca a mão dentro da bolsa que carrega consigo, cujo conteúdo já devemos ter mencionado anteriormente.

A verdade é que algo estava para acontecer entre eles. A verdade é que seria necessário mais tempo para podermos chegar ao desfecho dessa situação. A verdade é que nunca poderemos afirmar, com certeza, o que movia os sujeitos inicialmente identificados como "a", "b" e "c", porque nesse momento um motorista inicialmente identificado como "e" vinha em alta velocidade pela rua que ia da direita para a esquerda. O motorista inicialmente identificado como "e" discutia calorosamente com o passageiro inicialmente identificado como "f" a ponto de não perceber os personagens anteriormente mencionados que formavam uma cena plasticamente perfeita sob o semáforo.

Não sobraram muitas evidências após o acidente. Todas as afirmações expostas aqui foram colhidas entre os muito transeuntes. Não sabemos ao certo o que ocorreu naquele dia. E a verdade? Está em algum lugar, nas entrelinhas desta narrativa... ou perdida em algum fragmento da memória não capturado. Sentimos muito por isso.





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