Coisas e Coisas
A ARTE COMUNICANTE - CONFERÊNCIA NO CNC
Conforme aqui escrevera, decorreu ao fim da tarde de hoje, em instalações do Centro Nacional de Cultura, em organização conjunta com a Universidade Católica, a conferência A arte comunicante. Como conferencistas escutámos Alexandre Melo, António Pinto Ribeiro e João Salaviza, com a minha moderação (da direita para a esquerda, em fotografia de Ana Cachola).
Tomei várias notas, esperando ser o mais fiel às ideias dos conferencistas, dada a minha (outra) condição de moderador. Assim, António Pinto Ribeiro, ensaista, docente universitário e programador cultural, falou das condições do mediador na produção e comunicação da arte. Sem recuperar a dicotomia de cultura erudita e elitista versus cultura massifcada e perto do kitsch, identificou alguns pontos essenciais, como a ausência de tradição de criação artística de autor, dada a falta de contexto internacional, num encontro com outros mundos criativos, as fragilidades nas escolas em estabelecer um circuito completo da criação à distribuição internacional, em contexto de permanente debate pelos pares durante o curso da criação. Para Pinto Ribeiro, há um pésssimo hábito nacional de não discutir (espectáculos, filmes, livros), frustrante para o artista e o programador.
Dessa frustração do artista em não ver discutida a sua obra falou João Salaviza, jovem realizador de cinema que ganhou recentemente a Palma de Ouro para curtas-metragens no festival de Cannes com Arena, anteriormente galardoado no IndieLisboa. Para Salaviza faltam em Portugal revistas sérias sobre cinema, o que o levou a recordar o ambiente da escola de cinema de Buenos Aires onde completou os seus estudos universitários: ali, se uma revista defende um filme e outra ataca o mesmo filme, forma-se uma polémica útil para a criação. Salaviza reconhece haver blogues onde se faz crítica de cinema mas considera ser escassa a actividade. Salientou a crítica feita ao seu Arena por Daniel Melim (blogue Infinito ao Espelho)
.
Alexandre Melo, docente universitário, ensaista e curador, salientou igualmente o desaparecimento do espaço social e mediático da discussão das obras de arte, recordando o tempo em que se podiam escrever duas páginas de revista sobre uma exposição de um artista ainda não conhecido ou editar textos de mais do que um autor sobre um filme, o que provocava uma diversidade de leituras e de opiniões. Mas Alexandre Melo evidenciou uma nova atitude com a geração da primeira década do século, mais global (estimulada pelo programa Erasmus, por bolsas e novas instituições), ao invés das gerações das décadas de 1960 ou 1970, em que os próprios artistas consagrados punham no seu currículo as viagens feitas ao estrangeiro. Ou seja, estão a modificar-se os processos de conhecimento e reconhecimento internacional.
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